O vestibular é um dos maiores obstáculos para quem quer ingressar no Ensino Superior. Muitas universidades exigem demais do candidato. Fórmulas decoradas, anos e fatos, e uma redação excelente. Mas por mais esforçado e inteligente que seja o aluno, sem uma preparação adequada, ele não consegue vaga no curso desejado. Algumas famílias podem se dar ao luxo de pagar um Ensino Médio numa escola particular de qualidade, ou, se isso não for suficiente, um ou mais anos de cursinho para melhor preparar seu filho. Mas nem todas as pessoas podem gastar tanto dinheiro assim, e apesar de serem inteligentes, não conseguem tirar uma nota boa em um vestibular.
Tudo começou a partir de um desejo que o professor Paulino Sales
Abranches teve de desenvolver um projeto social na Escola. No ano de
2000, uma enchente atingiu Itajubá, e detonou a
Escola Estadual Silvério Sanches. A água quase chegaou ao segundo
pavimento. Então, a Direção iniciou um projeto para elevar a autoestima
dos alunos, com um projeto chamado PSIU, que trabalhava com oficinas de
teatro, dança, canto coral, artesanato voltados para os alunos. O professor Paulino se ofereceu para ajudar nesta iniciativa e
pensou na possibilidade de construir um projeto envolvendo alunos que já
tinham passado pela Escola, o Prevest.
Outros professores que também se interessaram
pelo projeto começaram a participar, e assim surgiu em 2001 o Pre-vest.com, abreviação de Pré-vestibular Comunitário. Atualmente ele conta com uma turma de cerca de 40 alunos que se prepara para entrar numa universidade em uma sala da Escola Estadual Silvério Sanches, na Vila Rubens, em Itajubá-MG, todas as noites de segunda a sexta. Eles seguem uma apostila elaborada por um cursinho comunitário de Belo Horizonte.
Os alunos têm aulas durante a noite. O que seria uma desvantagem para alguns, representa uma oportunidade para outros. Alguns deles trabalham ou estudam outra coisa durante o dia, então eles só podem fazer o Prevest porque ele acontece durante a noite. A principal dificuldade é que só sobram sábado e domingo para estudar, mas os alunos são dedicados e disciplinados e entendem a importância de uma rotina de estudos.
Mas não é qualquer um que pode entrar no Prevest. É preciso fazer uma prova, e apenas os 40 melhores têm essa oportunidade. No início, apenas os ex-alunos da escola estadual podiam participar do Prevest.com, mas agora alunos de outras escolas de Itajubá e até de outras cidades da região podem entrar no Prevest para se preparar para entrar numa universidade.
Para o ex-aluno Luciano Fernandes, sem o Prevest ele não teria conseguido passar em nenhuma das universidades para as quais prestou vestibular. "Estudei no prevest em 2004. Eu fiz parte das primeiras turmas. De lá pra cá já fui aprovado em 8 vestibulares, todos federais. Me formei na UFLA em Administração, a 1º melhor universidade federal e 2º entre todas instituições de ensino, ficando atrás apenas da Unicamp, segundo IGC do MEC." Luciano atualmente trabalha como Assessor em Economia Solidária na Unifei.
Antes, o foco da maior parte dos alunos era entrar na Unifei, mas isso mudou. "Com o surgimento do Reuni e do Prouni hoje os alunos tão interessados em diversos cursos tanto em Itajubá quanto fora de Itajubá." diz o Prof. Newton. De fato, muitos dos que passaram pelo Prevest foram parar em instituições como a FACESM, FEPI, UFLA, UNIPAC, UFSCAR, UFOP, PUC Minas, UNIFAL e várias outras.
O Prevest conta com o trabalho voluntário de professores de escolas como o próprio Silvério Sanches e a Unifei, que dedicam algumas horas por semana a preparar esses alunos para o pesadelo do vestibular.
Esse é o caso do Professor Newton de Figueiredo. Formado na UFMG, ele atualmente trabalha na Unifei e dá aulas de física no prevest. Ele dá aulas no prevest porque ele gosta de dar aulas. "Eu acho que para todo trabalho voluntário a pessoa tem que gostar do que vai fazer. Eu gosto de dar aula de Física, e lá eu faço o que gosto. Não dá muito trabalho, é o mesmo trabalho que uma disciplina qualquer outra que eu dê na Unifei."
Newton conta que muitos dos alunos que saem do Prevest acabam voltando para lá como professores. Ele cita o exemplo de um professor quer fez o Prevest, fez Física na Unifei e depois fez o mestrado e doutorado na USP. Atualmente ele é professor da Unifei e voluntário no Prevest. "É um ciclo virtuoso, pois os próprios alunos do prevest viram professores do prevest"
O Prevest muda a vida dos alunos, pois muitos deles não podem pagar um cursinho particular, e ao fazer o prevest eles se motivam pra estudar e entrar numa universidade. Cleverson Freitas, 19, teve uma história parecida. Ele cursou o Prevest em 2010, e graças a ele atualmente faz Engenharia Ambiental na Unifei. Para ele, os professores do Prevest se empenham muito bem, e ensinam com amor. Ele fazia o 3º ano durante o dia e o Prevest durante a noite. "Sem dúvidas o Prevest foi uma grande experiência, eu aprendi muito lá! Gostaria de agradecer aos professores pelo apoio que me deram espero algum dia ser também um professor de lá." diz Cleverson Freitas.
O Prevest foi o primeiro cursinho comunitário de Itajubá, mas a iniciativa inspirou outras pessoas a fazerem o mesmo, como o Cursinho Assistencial Amigos de Itajubá (Caai), o Curso Assistencial Centro de Inteligência do Cruzeiro (Cacic) e o Curso Assistencial Theodomiro Santiago (Cats). "Uma coisa que eu acho muito legal é que entre os cursinhos comunitários não existe concorrência, ao contrário dos particulares. Nos comunitários tem atividades conjuntas, parcerias. Eles se apoiam uns aos outros." disse o Prof. Newton.
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