Tudo que é vivo na natureza caga

Tudo que é vivo na natureza caga.
Pássaros cagam, mamíferos cagam, insetos cagam (alguns na sua cara). Plantas cagam pelas folhas que caem, bactérias cagam jogando fora junto um pedaço delas mesmas. Protozoários e algas eu não sei como cagam mas com certeza cagam. Ser vivo é uma coisa que pega o que precisa e joga fora o que não precisa.

Só que na natureza todo cocô é comida de alguém. As folhas mortas são comida de bactéria e de insetos, cocô de passarinho alimenta as árvores de volta, cocô de morcego alimenta cavernas inteiras de seres vivos, isso sem falar nos besouros rola bosta e outros insetos tipo moscas que se amarram em cocô. E entra nessa conta as bostas figuradas como o gás carbônico que você expira, o metano que você peida e o seu corpo quando você morre.

E tudo funciona muito bem porque alguém aproveita o que o outro joga fora. Tudo é transformado, digerido, decomposto, reaproveitado. É por isso que não vivemos num mar de cocô. Tudo que alguém caga alguém usa.

Mas aí chega a industrialização da sociedade ocidental e europeia e caga com força, e essa cagada ninguém consegue aproveitar. Joga mais fumaça no ar do que as plantas conseguem comer, joga mais lixo no rio do que os peixes e microorganismos conseguem usar, e ainda inventa um monte de coisa que ninguém consegue usar. Plástico, isopor, nylon, lata de alumínio, garrafa de vidro. E ainda desenterra uma caralhada de lixo que estava enterrada há milhões de anos e taca tudo no ventilador.

Empresas adoram jogar fora o que não têm como usar. Só que fora da empresa é o quintal de outra pessoa, a casa de outra pessoa, o rio de tantas pessoas e plantas e animais. Os economistas chamam de "externalidades" o que terceiros sentem na pele quando os primeiros e segundos lucram sem regulamentação nem punição adequada.

Barragens de rejeito são o destino final e por período indeterminado dos rejeitos da mineração. Não é uma hidrelétrica em que a água vai embora quando as turbinas se abrem. Não é uma lagoa em que a água fica um tempinho pra depois seguir seu rumo. Não é uma lata de lixo, é um lixão a céu aberto. E, do jeito que está hoje, é uma bomba relógio.

As empresas precisam ser responsáveis pelo seu lixo, essa bosta não biodegradável inútil não aproveitada por nada. Seja transformando rejeito em tijolo, plástico em outro plástico, PET em roupa, pneu em barragem contra erosão. Algum uso tem que ter. Porque o fora deles é a nossa casa. E não tem mais espaço pra mais merda.


Após o crime da Vale em Brumadinho

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