Quantos filhos Eduardo e Mônica tiveram?


 Quantos filhos Eduardo e Mônica tiveram? Uma análise da passagem de tempo na canção.




"Eduardo e Monica" é uma canção composta por Renato Russo e lançada em 1986, no álbum Dois, do grupo Legião Urbana, e foi editada como o segundo single do álbum no mesmo ano. (Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.) Em 1986 Portugal entrou na União Europeia, o Ônibus Espacial Challenger explodiu, e ocorreu o acidente nuclear em Chernobil. No Brasil, a moeda se tornou o cruzado, e os preços foram congelados.

"No Brasil, a Constituição brasileira de 1988 (art. 7º, XXXIII) admite o trabalho, em geral, a partir dos 16 anos, exceto nos casos de trabalho noturno, perigoso ou insalubre, nos quais a idade mínima se dá aos 18 anos." (Wikipédia: Trabalho infantil) Não consegui encontrar dados sobre a legalidade da venda e consumo de bebidas álcoolicas para/por menores de 18 anos.

Analisando a letra, podemos entender melhor o que se passa na história. O problema principal é a pergunta do título: "quantos filhos tiveram Eduardo e Mônica"?  A abordagem inicial seria destacar os dois trechos que mencionam seus filhos: "Construíram uma casa há uns dois anos atrás / Mais ou menos quando os gêmeos vieram" e "nessas férias, não vão viajar / Porque o filhinho do Eduardo tá de recuperação".

Assim, surgem duas hipóteses:
  1. Eduardo e Mônica têm dois filhos, que são gêmeos. O filhinho que ficou de recuperação é um dos gêmeos.
  2. Eduardo e Mônica têm três filhos. O filhinho que ficou de recuperação não é gêmeo, é mais velho.
Entendendo o narrador como estático no tempo, como uma pessoa que conta uma história para os amigos em cinco minutos, a hipótese dois ganha força. Afinal, os gêmeos nasceram há dois anos atrás. E não faz sentido uma criança de dois anos ficar de recuperação, muito menos que essa recuperação atrapalhe uma viagem de férias.

No entanto, uma outra interpretação dá força para a hipótese dois: a de que o narrador não está estático no tempo. Não se trata de uma pessoa contando uma história de seus conhecidos para alguém, mas de um verdadeiro narrador épico que acompanha seus heróis ao longo de sua jornada. Quando o narrador diz que Eduardo tinha dezesseis anos e Mônica fazia Medicina, ele não está falando de algo que aconteceu há anos atrás, mas algo que aconteceu em um passado breve, em relação ao momento histórico em que o narrador se encontra. Assim, quando Eduardo aprende a beber, começa a trabalhar, passa no vestibular, e Mônica se forma, o narrador acompanha essa transformação dos personagens. Portanto, em um momento o narrador está realmente falando que os gêmeos nasceram há dois anos atrás. Porém, quando diz que nessas férias não vão viajar, o narrador já está em outro momento histórico, em outro ano, e os dois anos podem ter se transformado em sete, oito, dez.

Para verificar se a segunda hipótese, a de um narrador dinâmico no tempo, faz sentido, é preciso analisar a única fonte oficial que se tem, que é a letra da música. Destaquei alguns trechos para facilitar a análise. Em cinza, os refrões inicial e final. Em azul, as marcações que dão noção de tempo ou idade. E em vermelho, as vezes que o narrador fala "Eduardo e Mônica".

Quem um dia irá dizer
Que existe razão
Nas coisas feitas pelo coração?
E quem irá dizer
Que não existe razão?


Eduardo abriu os olhos, mas não quis se levantar
Ficou deitado e viu que horas eram
Enquanto Mônica tomava um conhaque
No outro canto da cidade, como eles disseram

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Eduardo e Mônica um dia se encontraram sem querer
E conversaram muito mesmo pra tentar se conhecer
Um carinha do cursinho do Eduardo que disse
Tem uma festa legal, e a gente quer se divertir

Festa estranha, com gente esquisita
Eu não tô legal, não aguento mais birita
E a Mônica riu, e quis saber um pouco mais
Sobre o boyzinho que tentava impressionar
E o Eduardo, meio tonto, só pensava em ir pra casa
É quase duas, eu vou me ferrar

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Eduardo e Mônica trocaram telefone
Depois telefonaram e decidiram se encontrar
O Eduardo sugeriu uma lanchonete
Mas a Mônica queria ver o filme do Godard

Se encontraram, então, no parque da cidade
A Mônica de moto e o Eduardo de camelo
O Eduardo achou estranho e melhor não comentar
Mas a menina tinha tinta no cabelo

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Eduardo e Mônica eram nada parecidos
Ela era de Leão e ele tinha dezesseis
Ela fazia Medicina e falava alemão
E ele ainda nas aulinhas de inglês

Ela gostava do Bandeira e do Bauhaus
Van Gogh e dos Mutantes, de Caetano e de Rimbaud
E o Eduardo gostava de novela
E jogava futebol de botão com seu avô

Ela falava coisas sobre o Planalto Central
Também magia e meditação
E o Eduardo ainda tava no esquema
Escola
, cinema, clube, televisão

E mesmo com tudo diferente, veio mesmo, de repente
Uma vontade de se ver
E os dois se encontravam todo dia
E a vontade crescia, como tinha de ser

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Eduardo e Mônica fizeram natação, fotografia
Teatro, artesanato, e foram viajar
A Mônica explicava pro Eduardo
Coisas sobre o céu, a terra, a água e o ar

Ele aprendeu a beber, deixou o cabelo crescer
E decidiu trabalhar (não!)
E ela se formou no mesmo mês
Que ele passou no vestibular


E os dois comemoraram juntos
E também brigaram juntos muitas vezes depois
E todo mundo diz que ele completa ela
E vice-versa, que nem feijão com arroz

Construíram uma casa há uns dois anos atrás
Mais ou menos quando os gêmeos vieram

Batalharam grana, seguraram legal
A barra mais pesada que tiveram

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Eduardo e Mônica voltaram pra Brasília
E a nossa amizade dá saudade no verão
Só que nessas férias, não vão viajar
Porque o filhinho do Eduardo tá de recuperação

E quem um dia irá dizer
Que existe razão
Nas coisas feitas pelo coração?
E quem irá dizer
Que não existe razão?
 O narrador fala dos dois anos atrás em uma estrofe, e na estrofe seguinte ele já fala "nessas férias". Portanto, essa passagem de tempo defendida pela hipótese 2 ocorreu de uma estrofe para a outra. E o que marca o limite entre as estrofes? O nome da música. O narrador canta, em sílabas prolongadas, o nome dos dois protagonistas. E enquanto "Eduardo e Mônica" pode ser ouvido, o cenário se transforma rapidamente, tal qual a transição de um filme que não tem tempo para contar o que acontece entre os 13 e os 30 anos do protagonista, ou a transformação do cenário numa peça de teatro, movido por pessoas vestidas de preto. Eduardo deixa de ser um estudante de cursinho, e se transforma em um trabalhador de longos cabelos. Mônica deixa de ser estudante de Medicina na Faculdade de Medicina e se torna uma Médica na empresa Médica. A tinta no cabelo se esvai, o camelo enferruja, a moto provavelmente dá lugar a um carro de família, e o alemão se torna ainda mais fluente.

Nosso narrador, que acompanhou o jovem Eduardo atingir a maioridade, agora pode descansar, sabendo que sua função nessa epopeia chegou ao fim. E nossos heróis têm que explicar para o filhinho que coração se escreve com Ç.

Um comentário:

  1. Eu concordo com a segunda ipotese, pois a narração começa no passado ,há uma passagem de tempo ,que TB é contado no tempo passado e termina no tempo presente .
    Seria como uma estória contada para amigos ,sobre a vida de dois amigos ,até o momento presente.

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