"Existem abusos infantis, e existem lembranças reprimidas. Mas há também lembranças falsas e inventadas, e elas não são de modo algum raras. As lembranças errôneas são a regra, e não a exceção. Acontecem todo dia. Ocorrem até em casos em que o sujeito está absolutamente confiante - mesmo quando a lembrança é aparentemente uma luminosidade inesquecível, uma dessas fotografias metafóricas mentais. Sua ocorrência é ainda mais provável nos casos em que a sugestão é uma possibilidade expressiva, em que as lembranças podem ser modeladas e remodeladas para satisfazer as fortes exigências interpessoais de uma sessão de terapia. E quando a lembrança foi reconfigurada dessa maneira, é muito, muito difícil mudar.

Esses princípios gerais não nos ajudam a determinar com certeza onde está a verdade em cada caso ou afirmação individual. Mas em média, num grande número dessas afirmações, é bem evidente no que devemos apostar. As lembranças errôneas e a reelaboração retrospectiva fazem parte da natureza humana; estão associadas ao nosso território e sempre acontecem."

Ulric Neisser, psicólogo da Universidade Emory, em O Mundo Assombrado Pelos Demônios, de Carl Sagan.


Postaram no Facebook pedindo opiniões sobre o tema O trabalho na construção da dignidade humana:
Primeiramente, o que é considerado como digno? O que é esta "dignidade" no viés social (especialmente na sociedade brasileira)
E depois, como exatamente o "trabalho", em si, atua nisso? Entre outras coisas discutíveis acerca desse tema.

Respondi isso:

Na Grécia Antiga, os que trabalhavam com as mãos era vistos como menos dignos, e os que trabalhavam com a mente eram a elite. Os filósofos gregos que conhecemos e estudamos hoje tinham todas as suas necessidades atendidas pelos escravos. O trabalho braçal era mal visto.
E isso foi a regra durante séculos. Afinal de contas, para que gastar energia e se cansar fazendo algo, se você poderia ter outra pessoa que o fizesse por você? Muito melhor passar o seu tempo fazendo outra coisa.
Mas essa mentalidade mudou com a ascensão do capitalismo. Com as ideias de Calvino e a valoração do lucro, o trabalho passou a se tornar algo mais visto. Com o trabalho se teria acumulação de riqueza, e essa acumulação era sinal da salvação. Surgiu então a ideia por trás de ditados populares como "Deus ajuda quem cedo madruga".
Apesar de até hoje "trabalhador" ser um adjetivo associado a algo positivo, a sociedade ainda preserva parte da mentalidade dos antigos gregos: o pedreiro, que trabalha com as mãos, é menos valorizado que o arquiteto, que trabalha com a mente. O mesmo vale para o jardineiro e o paisagista, o mecânico e o engenheiro mecânico.
Porém, a medida que o capitalismo se tornou cada vez mais poderoso, e o consumismo, o excesso e a cidade se tornarem regra em vez de exceção, veio surgindo também uma vontade de retomada das origens. Por esse motivo vem surgindo movimentos como a agroecologia, os produtos orgânicos, o "Do It Yourself" e as ecovilas, em que o trabalho mental de escritório é deixado de lado para privilegiar o trabalho braçal de cultivar a sua própria comida, de fazer seus próprios objetos de uso pessoal e entrar em contato com a natureza.

A dignidade permeia todo esse contexto. A dignidade está intimamente relacionada à auto estima e a valorização do ser humano. Muitas vezes a sociedade olha com maus olhos o homem do campo, que trabalha debaixo do sol o dia todo roçando e capinando e produzindo a comida da sua família e das famílias da cidade. Porém esse homem pode manter a sua dignidade, sabendo que faz um trabalho honesto e não prejudica os outros. Ao mesmo tempo o homem da cidade que passa duas horas para chegar ao trabalho, realiza um trabalho monótono, alienante, que não diz respeito a sua realidade, e depois pega mais duas horas de trânsito para chegar em casa para, no pouco tempo que tem aos finais de semana tentar aproveitar o dinheiro suado que ganhou, ele também pode manter a sua dignidade ao sonhar em mudar de vida ou dar condições melhores para a sua família.

Há muitas formas de se manter a dignidade. Pode-se pensar na maneira com que a pessoa enxerga a própria realidade, pode-se tentar julgar com critérios que tentam ser objetivos como a qualidade de vida, mas no final das contas cada pessoa deve tentar viver a vida da melhor maneira que pode, criando a cada dia os seus motivos para fazer o que faz.

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